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Comissão Teológica: O monoteísmo cristão contra a violência

“Deus Trindade, unidade dos homens. O monoteísmo cristão contra a violência”: este é […]

“Deus Trindade, unidade dos homens. O monoteísmo cristão contra a violência”: este é o título de um documento que a Comissão Teológica Internacional publicou nesta quinta-feira, 16.

De acordo com a Nota preliminar do documento, o texto é fruto de um estudo acerca de alguns aspectos do discurso cristão sobre Deus, em confronto com as teorias segundo as quais existiria uma relação necessária entre o monoteísmo e a violência.

“A fé cristã vê e reconhece, de fato, na excitação à violência em nome de Deus a máxima corrupção da religião”, lê-se na apresentação, que acrescenta que o documento é sustentado pela convicção de que as guerras inter-religiosas, como também a guerra contra a religião, “são de todo insensatas”.

O trabalho desenvolveu-se no seio de uma Subcomissão, presidida pelo Rev. Philippe Vallin e composta dos seguintes membros: Rev. Peter Damian Akpunonu, Pe. Gilles Emery, O.P., Dom Savio Hon Tai-Fai, S.D.B., Dom Charles Morerod, OP, Rev. Thomas Norris, Rev. Javier Prades López, Dom Paul Rouhana, Rev. Pierangelo Sequeri, Rev. Guillermo Zuleta Salas.

As discussões gerais sobre este tema realizaram-se em vários encontros da Subcomissão e durante as Sessões Plenárias da Comissão, que tiveram lugar entre 2009-2013. O textofoi aprovado pela Comissão “em forma específica” em 6 de dezembro 2013, e entregue, em seguida, ao Presidente, Dom Gerhard L. Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que autorizou a sua publicação.

Comissão Teológica Internacional

Deus Trindade, unidade dos homens

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O monoteísmo cristão contra a violência

 ÍNDICE GERAL

Nota Preliminar

APRESENTAÇÃO

 CAPÍTULO I. Suspeitas acerca do monoteísmo [1-18]

1 . A experiência religiosa do divino [1-2]

2 . Monoteísmo e violência: um vínculo necessário? [3-9]

3 . Politeísmo tolerante? Uma metáfora discutível [10-14]

4 . A responsabilidade atribuída à nossa fé [15-18]

 CAPÍTULO II. A iniciativa de Deus no caminho de homens [19-42]

1 . A aliança com Deus, destinada a todos os povos [19-23]

2 . Discernimento cristão da antiga revelação [24-30]

3 . Praticar o amor, acatar a justiça [31-35]

4 . A fé no Filho, contra a inimizade entre os homens [36-42]

CAPÍTULO III. Deus, para nos livrar da violência [43-66]

1 . Deus Pai salva-nos pela cruz do Filho [43-47]

2 . A superação da violência, no Filho [48-53]

3 . A carne do homem, destinada à Glória de Deus [54-59]

4 . A esperança dos Povos, a fé da Igreja [60-66]

CAPÍTULO IV. Fé em face da amplitude da razão [67-84]

1 . A via do diálogo e o nó do ateísmo [67-68]

2 . O confronto sobre a verdade da existência de Deus [69-72]

3 . A crítica da religião e o naturalismo ateu [73-75]

4 . O empenhamento da razão: o mundo criado, o Logos de Deus [76-77]

5 . Transcendência divina e as relações no e com o Deus único [78-84]

 CAPÍTULO V. Os filhos de Deus dispersos e reunidos [85-100]

1 . A dignidade do ser humano individual e o liame dos muitos [85-87]

2 . Deus corrobora a paixão pela justiça, reabre a esperança da vida [88-92]

3 . A purificação religiosa da tentação do domínio [93-96]

4 . A força da paz com Deus, missão da Igreja [97-100]

 NOTA PRELIMINAR

No seu lustro 2009-2014, a Comissão Teológica Internacional levou a cabo um estudo de certos aspectos do discurso cristão sobre Deus, defrontando-se sobretudo com a tese segundo a qual haveria uma relação entre monoteísmo e violência. O trabalho desenvolveu-se no seio de uma Subcomissão, presidida pelo Rev. Philippe Vallin e composta dos seguintes membros: Rev. Peter Damian Akpunonu, P. Gilles Emery, O.P., S.Excª Revma Savio Hon Tai-Fai, S.D.B., S.Excª Revma Charles Morerod, OP, Rev. Thomas Norris, Rev. Javier Prades López, S.Excª Revma Paul Rouhana, Rev. Pierangelo Sequeri, Rev. Guillermo Zuleta Salas.

As discussões gerais sobre este tema realizaram-se em vários encontros da Subcomissão e durante as Sessões Plenárias da Comissão, que tiveram lugar entre 2009-2013. O presente texto, de título “Deus Trindade, unidade dos homens. O monoteísmo cristão contra a violência”, foi aprovado pela Comissão “em forma específica” a 6 de Dezembro 2013, e entregue, em seguida, ao Presidente, SE Bispo Gerhard L. Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que autorizou a sua publicação.

APRESENTAÇÃO

O texto de reflexão teológica que apresentamos destina-se a evidenciar alguns aspectos do discurso cristão sobre Deus que, no contexto actual, exigem um esclarecimento teológico específico. A ocasião imediata deste esclarecimento é a teoria, exposta com argumentos de índole diversa, segundo a qual existe uma relação necessária entre o monoteísmo e as guerras de religião. A discussão em torno deste liame revelou numerosos motivos de incompreensão da doutrina religiosa, a ponto de obscurecer o autêntico pensamento cristão do único Deus.

Poderíamos resumir o fito do nosso discurso numa dupla pergunta: (a) Como é que a teologia católica se pode confrontar criticamente com a opinião cultural e política que estabelece uma relação intrínseca entre monoteísmo e violência? (b) Como é que a pureza religiosa da fé no único Deus se pode reconhecer como princípio e fonte do amor entre os homens?

A nossa reflexão pretende apresentar-se em chave de testemunho argumentado, e não de contraposição apologética. A fé cristã vê e reconhece, de facto, na excitação à violência em nome de Deus a máxima corrupção da religião. O cristianismo desemboca nesta convicção a partir da revelação da própria intimidade de Deus, que nos chega através de Jesus Cristo. A Igreja dos crentes é consciente do facto de que o testemunho dessa fé exige ser honrado por uma atitude de conversão permanente: que implica igualmente a “parresía” (ou seja, a franqueza corajosa) da necessária autocrítica.

No Capítulo I, propusemo-nos clarificar o tema do “monoteísmo” religioso na acepção que recebe e adquire em certas orientações da hodierna filosofia política. Estamos conscientes de que tal evolução exibe, hoje, um espectro muito diferenciado de posições teóricas, que vão desde o fundo clássico do ateísmo dito humanista às formas mais recentes do agnosticismo religioso e do laicismo político. A nossa reflexão visaria, antes de mais, sublinhar que a noção de monoteísmo, não destituída de significado para a história da nossa cultura, permanece ainda demasiado genérica, quando se utiliza como cifra de equivalência das religiões históricas que professam a unicidade de Deus (identificadas como Judaísmo, Islamismo, Cristianismo). Em segundo lugar, formulamos a nossa reserva crítica em face de uma simplificação cultural que reduz a alternativa à escolha entre um monoteísmo necessariamente violento e um politeísmo supostamente tolerante.

De qualquer forma, nesta reflexão sustém-nos a convicção, que por motivos vários consideramos partilhada por muitíssimos contemporâneos nossos, crentes e não-crentes, de que as guerras interreligiosas, como também a guerra contra a religião, são de todo insensatas.

Em seguida, como teólogos católicos e à luz da verdade de Jesus Cristo, procurámos ilustrar o nexo entre revelação de Deus e humanismo não-violento. Fizemo-lo mediante a reexposição de algumas implicações da doutrina peculiarmente apropriadas para iluminar o debate actual: quer no tocante à autêntica compreensão da confissão trinitária do Deus único, quer no que diz respeito à abertura da revelação cristológica para a recuperação do vínculo entre os homens.

No Capítulo II, indagamos o horizonte da fé bíblica, com especial atenção ao tema das suas “páginas difíceis”: aquelas em que a revelação de Deus surge envolvida nas formas da violência entre os homens. Tentamos identificar os pontos de referência que a própria tradição escriturística realça – no seu seio – para a interpretação da Palavra de Deus. Com base neste reconhecimento, oferecemos um primeiro esboço de enquadramento antropológico e cristológico dos desenvolvimentos da interpretação do tema, requeridos pela condição histórica actual.

No Capítulo III, propomos um aprofundamento do evento da morte e da ressurreição de Jesus, na chave da reconciliação entre os homens. A oikonomia é aqui essencial à determinação da theologia. A revelação inscrita no acontecimento de Jesus Cristo, que torna universalmente relevante e apreciável a manifestação do amor de Deus, permite neutralizar a justificação religiosa da violência com base na verdade cristológica e trinitária de Deus.

No Capítulo IV, a nossa reflexão empenha-se na clarificação das aproximações e implicações filosóficas do pensamento de Deus. Abordam-se aqui, antes de mais, os pontos de discussão com o ateísmo actual, largamente presente e concentrado nas teses de um naturalismo antropológico radical. Por fim – também em prol do confronto interreligioso sobre o monoteísmo – propomos uma espécie de meditação filosófico- teológica sobre a integração entre a revelação da íntima disposição relacional de Deus e a concepção tradicional da sua absoluta simplicidade.

No Capítulo V, por último, condensamos os elementos da especificidade cristã que definem o empenho do testemunho eclesial na reconciliação dos homens com Deus e de uns com os outros. A revelação cristã purifica a religião, no próprio momento em que lhe restitui o seu significado fundamental para a experiência humana do sentido. Por isso, no nosso convite à reflexão temos bem presente a necessidade especial – sobretudo no horizonte cultural de hoje – de tratar sempre conjuntamente o conteúdo teológico e o desenvolvimento histórico da revelação cristã de Deus.

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