Quando a fartura vira lixo

Hábito de jogar comida fora revela a cultura de valorização da abundância e evidencia o desperdício no Brasil

Sem dúvidas, você já usou ou deve ter escutado a expressão “é melhor sobrar do que faltar”. Pois bem, esse hábito de fartura à mesa do brasileiro pode parecer inofensivo, mas é o principal responsável pelo desperdício de alimento no País. Para se ter ideia, cada pessoa joga, em média, 41,6 quilos de comida no lixo a cada ano, segundo pesquisa realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) com apoio da Fundação Getúlio Vargas. O dado torna-se ainda mais alarmante quando comparado à outra estatística: 5,2 milhões de pessoas passam fome no Brasil, aponta a Organização das Nações Unidas (ONU).

Na liderança dos alimentos mais descartados estão o arroz (22%), a carne bovina (20%), o feijão (16%) e o frango (15%), presentes nas refeições da maior parte da população. O não aproveitamento das sobras é o principal fator para o descarte, explica Gustavo Porpino, analista da Embrapa e líder da pesquisa em questão. “O elevado desperdício observado nas famílias brasileiras é justificado, principalmente, pela cultura de valorização da abundância. Os consumidores gostam de realizar uma grande compra mensal, valorizam ter um estoque abundante em casa e preparam porções grandes de comida”, diz.

O especialista acrescenta que o desperdício também está relacionado aos problemas contidos no início da cadeia agroalimentar, antes de os produtos chegarem à mesa. “O manejo inadequado, ainda na etapa de produção, pode acelerar o apodrecimento de alguns alimentos. Além disso, frutas e hortaliças podem ter sido transportadas em embalagens inadequadas e o tempo de prateleira será encurtado por estas razões. Desta forma, o desperdício que irá ocorrer na casa da família pode ser derivado destes problemas”, analisa Porpino.

Conscientização

A dona de casa Joanita Alves tem consciência quando o assunto é desperdício e deve ser vista como exemplo. Na casa dela, tudo é aproveitado. O resto do arroz vira bolinho, as verduras muito maduras viram sopa, oléo usado vira sabão. Tal hábito foi ensinado pelo pai, quando ainda era criança. Assim, ela cresceu sabendo que jogar comida no lixo é algo a ser evitado ao máximo.

“Papai teve uma vida bem difícil e chegou a passar fome. Por isso, ele sempre fez questão de nos mostrar a importância daquilo que temos. O que é descartável para alguns, pode ser de grande valia para outros. Eu procuro passar essa ideia para aqueles que convivem comigo. Comida só chega ao lixo quando realmente não tem mais jeito”, afirma.

É justamente esse cuidado de Joanita que falta a muitos brasileiros. Para Gustavo Porpino, o mais simples a ser feito é uma reeducação nos hábitos de compra, preparo e consumo de alimentos. “Essa realidade persiste porque está relacionada a fatores comportamentais. Conseguir mudar a cultura é um trabalho a longo prazo. Se as famílias planejarem melhor e estiverem mais dispostas a transformar as sobras em novos pratos, o desperdício tende a diminuir”, finaliza o analista.

Reportagem de Vinícius Braga

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