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Santa Dulce: uma vida à serviço dos pobres

Mais uma reportagem especial sobre a vida e trajetória do Anjo Bom da Bahia, que viveu para ajudar os mais necessitados e doentes

“Minha cabeça estava virada mais aos pobres e doentes. Naquela época todo mundo estranhava porque eu vivia na rua, mas eu tinha licença para fazer isso. Eu sabia que era isso que tinha que fazer”. O belo relato de Irmã Dulce explica o porquê de ter se tornado o Anjo Bom da Bahia. Ela tinha uma meta para cumprir quando se tornou religiosa: ajudar aos mais necessitados. E ela conseguiu!

Em 1935, passou a dar assistência à comunidade carente da Favela de Alagados, em Salvador (BA). No lugar marcado pela pobreza, Irmã Dulce começou a atender os moradores em um simples barraco de madeira e com o tempo conseguiu criar um posto médico. Em 1936 fundou a União Operária São Francisco, com Frei Hildebrando Kruthaup e juntos criaram o Círculo Operário da Bahia, mantido com a arrecadação de três cinemas que ambos haviam construído por meio de doações. O objetivo era promover a assistência social e também a evangelização. O espaço utilizado por eles se tornou, inclusive, o Santuário que hoje é dedicado à Santa. A igreja começou a ser erguida em 2002 e tem capacidade para mais de mil pessoas sentadas.

“Aqui neste espaço encontram-se além dos sacramentos, porque é o Santuário, o que marca é o Sacramento da Penitência, que aqui é oferecido, as santas missas, o acolhimento, a capela das relíquias de Santa Dulce dos Pobres e o velário”, explica Frei Giovani Messias, reitor do Santuário de Santa Dulce dos Pobres.

Voltando no tempo, em 1939, Irmã Dulce inaugurou o Colégio Santo Antônio, escola pública voltada para operários e seus filhos. No mesmo ano, a religiosa resolveu procurar mais um espaço para abrigar os pobres e doentes da região.“Eu me lembrei que tinha um mercado velho, botei  40 doentes lá dentro e tinha uma irmã me ajudando, e nós varríamos, os vizinhos davam café. Aí o prefeito mandou me chamar e me perguntou o que eu estava fazendo. Eu disse a ele que não tinha onde colocar os doentes. E ele disse que não podia. Aí, fomos para a Ladeira do Bonfim”, conta Ir. Dulce, em relatos deixados.

Após dez anos de procura por um lugar de acolhida, a religiosa ocupou um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio, com autorização da sua superiora e passou a cuidar, de início de 70 doentes. O espaço se tornou, em 1959, a sede das Obras Sociais Irmã Dulce. A iniciativa deu origem a um dos maiores complexos de saúde pública do país.

Hoje idosos, pessoas com deficiência e deformidades, em situação de rua, usuários de substâncias psicoativas e crianças e adolescentes em situação de risco social são atendidas no espaço. Cerca de 3,5 milhões de procedimentos ambulatoriais são realizados por ano. A sede das Obras em Salvador abriga, em seus 40 mil metros quadrados de área construída, 20 dos 21 núcleos da entidade, incluindo 954 leitos hospitalares para o atendimento de patologias clínicas e cirúrgicas. Para dar conta de tudo, cerca de quatro mil colaboradores trabalham no local.

Minha mãe trabalhava aqui na dispensa e a Irmã Dulce sempre dizia que ela só poderia pagar aquele salário, mas se a gente arrumasse outro emprego que ganhava mais, podia sair e ela ia entender. Ela tinha essa filosofia, dizia que o funcionário estivesse infeliz não ia fazer bem para os atendidos. E minha tia saiu, e eu entrei no lugar dela. Ela me disse que o mais importante era cuidar dos pacientes dela, não precisava ser boa para ela”, lembra a auxiliar administrativa Vilma dos Santos Pires Dias.

O jeito doce e cuidadoso da freira conquistou o coração do povo baiano, tanto que muitos voluntários se dedicam aos doentes que procuram ajuda nas Obras Sociais irmã Dulce. “Conheço Ir. Dulce desde criança. Eu brincava próximo ao galinheiro dela. Eu gosto muito dela. Ela me ajudava muito.Ela lutava pelos pobres e eu lutava pela minha família, poris fui abandonada com meus filhos”, relata Lindinalva Maciel Silva, voluntária.

Nas dependências do complexo das Obras Sociais, anexo a uma capela, funciona o Memorial Irmã Dulce, inaugurado um ano depois da morte da religiosa. No local é possível encontrar objetos, relíquias e espaços usados por Santa Dulce dos Pobres. São mais de oitocentas peças entre documentos, objetos pessoais, o hábito usado por ela e diversas fotografias. Quem visita o espaço pode conhecer toda a história do Anjo Bom da Bahia.

Eu gosto de falar de Ir. Dulce não como uma santa. Eu digo às pessoas que elas vão conhecer uma santa que pisou neste chão, que comeu com a gente, que chorou com a gente, que sentiu a dor desse povo. Não falo de uma pessoa distante, mas de uma pessoa que passou por nós e deixou um perfume. Então, começo falando da vida dela e apesar de tudo que ela viveu gostava das coisas normais, futebol, pipa, música”, pontua o monitor do Memorial, Ronaldo dos Santos Castro.

Todos carregam com carinho o tempo de convivência com irmã Dulce e muitos transmitem a quem chega nos espaços por onde ela andou toda paz e serenidade que a religiosa transmitia. Afinal, ela é a Santa da Bahia, a santa povo brasileiro. Helena “Ir. Dulce é amor, paz, serviço, salvação”, conclui Maria Helena, amiga de Ir. Dulce.

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