Comunidade

Santo Afonso: Sacerdote Apóstolo

Confira a continuação do artigo do Fr. Eduardo de Souza Montalvão sobre a maturidade e plenitude do fundador da Congregação dos Redentoristas

PARTE II

 No artigo anterior, vimos a infância, juventude e conversão de Santo Afonso. Agora entramos em sua maturidade e plenitude sacerdotal: Sacerdote Apóstolo.

No alvorecer do apurado século XVIII que subjuga, nesta Europa onde aos poucos se apagam os fogos das galantes festas e se herda um novo mundo marcado pelo triunfo da razão, o progresso da ciência e o culto ao homem. Afonso de Ligório, após seu processo perdido, acaba de fazer sua escolha. Ele deu as costas ao poder e à glória e escolheu uma prioridade: o mundo dos pobres.

Evangelizar os pobres e lançá-los ao apostolado: em 1723 vestiu a batina e continuou como externo, como é costume nesta época, os cursos do Seminário maior de Nápoles: formação intelectual, espiritual e pastoral. Ele continua com seus compromissos com os enfermos, com os quais continua a visitar e cuidar regularmente. Entre os grupos de trabalho pastoral prático, propostos pelo Seminário, ele escolhe o das “Missões Apostólicas” organizadas pelos sacerdotes da diocese. Assim, em novembro de 1724, ele participou de sua primeira missão, a de Santo Elói, nas favelas de Nápoles. Esta foi uma data para ele, para os Redentoristas e para a Igreja , – como ressalta Rey-Mermet -: É, desde então, um sinal de Deus: ele foi enviado primeiro antes de tudo aos mais pobres, aos abandonados/desprezados; à escória social e moral do seu povo” (REY-MERMET, 1982, p. 166). No ano seguinte, ingressou na associação de Santa Maria Sucurre Miseris, cuja sede ficava na capela do Hospital dos Incuráveis. Seu objetivo era auxiliar espiritualmente os condenados à morte e, materialmente, as famílias que eles deixavam. No sábado, 6 de abril de 1726, ele era diácono; e em 21 de dezembro do mesmo ano, padre. “Uma vez padre”, escreve Tannoia, seu amigo e biógrafo, “Afonso passou a maior parte de seu tempo no bairro do Mercado e do Lavinaio, onde vive a escória do povo napolitano. A sua alegria consistia no meio da ralé, daqueles que são denominados os Lazzaroni, e de outras multidões pobres cuja única profissão era a sua miséria. A eles, mais do que a outros, ele deu seu coração. Instruía-os com suas pregações e os reconciliava com Deus pela confissão. De boca a boca, logo se espalha a notícia dele até os confins da cidade; a ele vieram de todos as partes e lugares abrasados pelo fogo que devorava de zelo, sentido arder a salvação a estas almas pela sua entrega a Cristo; mais e mais criminosos vieram… e depois eles voltavam. Eles não apenas abandonaram seus vícios, mas se comprometeram na oração, na contemplação e em sua mente nada mais tinham para amar Jesus Cristo” (1982, p. 190).

Afonso dá as boas-vindas a todos, mas vai à cidade; e as pessoas vão até aquele que logo fica sobrecarregado de gente. Dos encontros ao ar livre passa-se aos encontros nas casas, nas salas interiores das lojas…  Tal como nos primeiros séculos da Igreja! Os que já se converteram arrastam os outros, ajudava-os a rezar, rezar, meditar no Evangelho.

Quando o arcebispo soube que o trabalho de Afonso estava entre os pobres das favelas de Nápoles, ficou pasmo; põe à sua disposição todos os oratórios e capelas públicas de sua diocese. Daí o nome de seus encontros: Cappelle serotine, “Capelas da noite”. Na verdade, todas as tardes, quando termina a jornada de trabalho para os homens, (porque para as mulheres o trabalho nunca acaba…). Os “lazzaroni”, isto é, os saboeiros, barbeiros, pedreiros, carpinteiros, carregadores e outros , reuniam-se em comunidades de crentes. Dessa forma, são formados grupos de cerca de 100 pessoas por capela. O resultado é que em meados do século XVIII existem comunidades de base análogas às que hoje são a esperança da Igreja nos países da África ou da América Latina.

Afonso confia a sua animação aos leigos convertidos: é o apostolado do meio a meio (um século depois o grande Missionário São Daniel Comboni faria o mesmo “Salvar a África através da África). Os padres seriam apenas assistentes. Para entrar não há formulário para preencher, nenhuma taxa, nem autorização do pastor ou bispo. São os leigos responsáveis ​​que convidam outros leigos em nome de Jesus Cristo, incentivados por Afonso. No entanto, estes leigos não se contentam em ouvir o Evangelho ou explicá-lo, mas antes colocá-lo em prática e muito concretamente: partilham na ajuda e na pobreza, visitam os enfermos, recupera-se a consciência profissional entre os milhares de servos, carpinteiros, operários, artesãos; lucros não são mais perdidos em jogos e bebidas, e o trabalho substitui o roubo, etc. À tarde de sua vida, Afonso se enche de alegria ao saber de um arquiteto napolitano, amigo dele, que esse trabalho continua. (Deveria continuar até 1848) “Às capelas ao pôr-do-sol”, diz seu amigo, “vem uma multidão de pessoas e há Santos entre os cocheiros”, “Santos cocheiros em Nápoles!” Exclamou o Santo, “Gloria Patri!”. A Obra das Capelas do Pôr-do-Sol era uma novidade, por outro lado, o trabalho das missões em que Afonso esteve empenhado durante o seu seminário, fazia parte de uma longa tradição. No século anterior, o ministério das missões paroquiais assumiu o caráter de instituição permanente. Mas as diferenças não faltaram: na França, a missão muitas vezes tinha o aspecto de um catecismo adulto. Na Itália como na Espanha, tendeu mais à conversão dos corações e à reconciliação.

Em 1727, Afonso, ainda membro titular das missões apostólicas, descobriu a miséria do abandono do povo rural. Tudo acontece durante uma missão da Diocese de Campagna nos arredores de Éboli. “Cristo parou em Eboli” (cf., 1982, p. 220), disseram os camponeses de Gagliano, uma pequena cidade da Lucânia, dando a entender o seu abandono. O que muitos ignoram é que naquela região da Itália do século XVIII foi o epicentro de uma onda de choque, um terremoto de ordem espiritual, o mesmo que abalou Afonso, e também a Igreja. No decurso de uma missão naquela região, Afonso descobre a miséria e o abandono das gentes do campo, o que lhe causa um choque profundo. E isso acontece a poucas horas de caminhada da capital do Reino que transborda de sacerdotes.

Quando Afonso volta a Nápoles, seu olhar já está diferente. Traz em si uma pergunta e uma preocupação dilacerante: “Quem vai partir o Pão da Palavra a essas ‘almas abandonadas’ desprovidas de ajuda espiritual?”. Impossível perder tempo pensando. Em um ritmo acelerado, ele continua as missões na cidade e no Reino. Afonso se entrega a eles completamente, mas sua saúde não resiste. Ele fica doente, muito doente. Você até pensa em seus funerais, dos quais ele consegue escapar. No entanto, o aviso foi terrivelmente terrível. Resultado? O médico prescreve um descanso longo e imediato.

Santa Maria dei Monti: Aproxima-se o verão de 1730. Os amigos de Afonso o convidam a descansar nas alturas com vista para Scala (não seria melhor: descansar nas alturas, em Scala, com vista para o mar de Amalfi?) e ao mar de Amalfi. Com seus companheiros ele sobe ao topo de mais de 1000 metros de altura. Ali se ergue a pequena ermida de Santa Maria dos Montes, um lugar ideal e um esplêndido panorama. Mas Afonso não tem tempo para admirar a paisagem: a multidão de pobres aos arredores dirige-se para a capela. “A chegada dos missionários tornou-se logo conhecida”, – escreve Tannoia – “Quase que imediatamente vieram pastores, cabreiros e outros habitantes espalhados pelo campo. Mal se pode imaginar quanto tenha sido a satisfação de Afonso, com esta multidão de gente. Com seus companheiros começaram a catequizar aqueles camponeses e ajudá-los com toda a caridade a confessar-se. De pastor para pastor se foi espalhando a notícia e outros vieram de mais longe. Do turismo dos padres, virou missão permanente e frutuosa” (1982, p. 230-231). O resto de nossos apóstolos tornou-se uma missão permanente e fecunda. Foi a ocasião que Deus aproveitou para que Afonso descobrisse o grande abandono espiritual sofrido por tantas almas privadas dos sacramentos e da Palavra de Deus, apodrecendo, abandonadas nos seus campos e aldeias. As infelizes descobertas feitas em Éboli não foram uma exceção lamentável. Essa era a situação da população rural: abandono…

Fundador de uma Congregação Missionária. Novembro de 1732. Afonso está orando, consultando há dois anos. Todas as dicas são convergentes. Dom Tommaso Falcoia (1663-1743), seu amigo, não cessa de encorajá-lo e até sua morte deve ser o “direttore” (protetor e conselheiro espiritual do jovem instituto). O superior dos Lazaristas, o Provincial dos Jesuítas, um renomado teólogo dominicano, seu confessor, todos aprovaram o projeto sem nenhuma relutância. Uma freira, Irmã Maria Celeste Crostarosa (1696-1755), que com a sua ajuda acaba de fundar uma nova Ordem das Freiras (Ordem do Santíssimo Redentor), o exorta a fundar “uma congregação de missionários cuja vocação especial será partir o pão da Palavra aos abandonados do campo” (cf., 1982, p. 285)A freira afirma ter recebido revelações com esse propósito. Um dia o próprio Santo Afonso aludiu a um de seus companheiros, padre Manzzini: “Irmã Maria Celeste… disse-me que meu dever é deixar Nápoles para fundar aqui um Instituto dedicado exclusivamente às missões nas aldeias e regiões rurais sem assistência espiritual. Diz ela as cidades e as regiões é menos desenvolvida aqui do que nas grandes cidades e regiões mais avançadas. Portanto, essa é a vontade de Deus. Mas como farei?”… padre Manzzini: “Caro Afonso, coragem! Quem sabe onde é que está exatamente a vontade de Deus?”. Afonso: “Mas onde encontrar companheiros?”. “Eis-me aqui, – respondeu, padre Manzzini – eu serei o primeiro” (cf., 1982, p. 262-263). Assim, em 2 de novembro de 1732, Afonso, “seguro da vontade de Deus, – diz Tannoia – animou-se e tomou coragem. Fazendo a Jesus Cristo o sacrifício total da cidade de Nápoles, ele se ofereceu para viver o resto de seus dias no meio daqueles currais e cabanas e para morrer rodeado de pastores e camponeses” (1982, p. 266). E Tannoia acrescenta solenemente: “O ano de 1732 foi antecipado por Deus para o feliz nascimento da nossa Congregação. O Papa Clemente XII ocupou a sede do Vaticano e Carlos Augusto VI governava o império e este reino de Nápoles. Afonso de Ligório, com as bênçãos dos padres Fiorillo e Pagano, aos 8 de novembro, cavalga com os mendigos num jumento de carga e, sem que seus parentes e amigos mais caros soubessem, deixam Nápoles e se dirige para a cidade de Scala” (1982, p. 279).

Afonso, o jovem da nobreza, havia se curvado ao mundo dos pobres; jovem sacerdote, fiel ao encontro dos mais pobres; Ele deixa o mundo dos ricos para viver com os pobres, para viver em comunidade apostólica com homens que, como ele, escolherão os pobres como prioridade de sua vida. Em 9 de novembro de 1732, foi fundada em Scala a Congregação do Santíssimo Salvador (o título do Instituto teve que mudar logo depois para ‘Santíssimo Redentor’, pois havia uma Ordem de clérigos regulares do mesmo nome fundada por Santa Brígida de Suécia). Quatro padres vêm aderir a Afonso: Qual é o seu propósito?: “Continuar o exemplo do Salvador” (cf., 1982, p. 233; 458). Posteriormente, Afonso formulará a carteira de identidade do verdadeiro Redentorista: “Aquele que é chamado à Congregação do Santíssimo Redentor nunca será um verdadeiro seguidor de Jesus Cristo e nunca será um Santo se não cumprir a finalidade da sua vocação não tem o espírito do Instituto, que é salvar as almas, e as almas mais necessitadas de ajuda espiritual como as pessoas do país” (cf., 1982, p. 467) e (Consideração XIII. Para aqueles que são chamados ao estado religioso).

Até agora, são cinco. O que importa. Em 28 de novembro de 1732, Afonso escreveu em seu diário: “hoje, fiz o voto de não abandonar o Instituto, a menos que Falcoia, ou quem lhe suceder na direção da minha alma, me dê ordem em contrário” (1892, p. 290). Seis meses depois, todos o deixaram. Era sexta-feira Santa de 1733, quando Afonso, ao pé da Cruz, ele conhece a notícia. A Dom Falcoia, que o interroga, responde com esta confiança: “Estou convencido de que Deus, Pe. Afonso, não tem precisão nem de você,  nem de ninguém. Acredito, que Ele pode sem você consolidar essa obra e suscitar outras” (1982, p. 309). Afonso, fica gelado e recompõem-se: “Estou convencido de que Deus não necessita nem de mim, nem de minha congregação. Sou quem necessita dele e de sua ajuda. Mesmo que devesse ficar só, espero cumprir sua vontade” (1982, p. 309). Há apenas um padre, Afonso, e apenas um irmão, Vito Curzio. Este irmão é recebido por Afonso em 18 de novembro de 1832, e ele está perseverante. Pouco a pouco outros padres se juntam a eles. Quanto a Afonso, continua a missão nas dioceses vizinhas, contando com a ajuda do clero diocesano ali recrutado. “O único objetivo do nosso Instituto – escreve ele em setembro de 1733 – é o trabalho das missões aos camponeses pobres” (1982, p. 312). Ao omitir esse trabalho fazemo-lo mal, o Instituto deixa de existir.

Para Afonso e seus companheiros, as missões são essenciais. As Regras e Constituições podem demorar ele sofrera esperando a aprovação oficial, mas as missões nunca vão parar. Eles adquirirão um novo estilo, mas qual? A missão Alfonsiana, inspirando-se nas grandes tradições: na missão catequética adulta e na missão de renovação espiritual. No entanto, isso tem seu próprio caráter. Acima de tudo, Afonso não se contenta em evangelizar as grandes cidades; vai além, até a cabana mais dispersa. Pe. Afonso não se limita a pregar sobre a morte, o céu ou o inferno; em vez disso, escreve um grande sermão sobre a oração e outro sobre a Virgem Maria. Para o propósito das missões, ele reserva o sermão sobre a Paixão de Cristo e seu amor por nós. Em seguida, usa sua pintura de “Cristo na Cruz” para dar ainda mais vigor a este sermão da semana passada destinado a conduzir os fiéis à conversão. Ele não lida com o medo, mas se converte com o coração. “O propósito principal do pregador missionário, – escreve ele, deve em cada sermão deixar seus ouvintes inflamados no amor Santo” (cf., 1892, p. 460).

Quando Afonso estabeleceu o brasão de sua jovem Congregação, o lema que escolhe são as palavras do Salmo 130: “COPIOSA APUD EUM REDEMPTIO” (COM ELE SERÁ ABUNDANTE A REDENÇÃO). Uma afirmação revolucionária numa época em que tantos pregadores falavam “pequeno número de escolhidos”. Afonso, pelo contrário, reuniu um grupo de missionários cuja missão é pregar a misericórdia de Deus. “Assim como o laxismo dos confessores é a ruína das almas, o rigor também faz muito mal, também condeno certos rigores que não têm razão de ser, que destroem em vez de construir. Com os pecadores, caridade e gentileza são necessárias. Assim fez Jesus Cristo, e se queremos conduzir as almas a Deus e salvá-las, não é Jansenio quem devemos imitar, mas Jesus Cristo que é a cabeça dos missionários” – escreveu Afonso (cf., 1982, p. 490-492).

Jansenio, professor de Louvain e mais tarde bispo de Ipres, escreveu uma obra pouco antes de sua morte, na qual dizia que a graça de Deus atua irresistivelmente e que aquele que a recebe é infalivelmente salvo; mas que Deus dá a muito poucos e, portanto, não quer que todos os homens sejam salvos (cf., 1982, p. 492). Consequentemente, o homem não pode se aproximar do recebimento dos Santos Sacramentos senão com grande temor e após grande preparação, extremamente dolorosa e laboriosa.

Bibliografías Complementares: 

-Taller de Profundización: Espiritualidad Misionera Redentorista. Cap. 13 de Julio de 2000. San Luis Potosí, S.L.P. México. -Espiritualidad Redentorista, Vol. 3. Jean Marie Sègalen. Roma, Italia 1994.
-Monseñor Daniel Comboni. Apóstol del África Central. P. Flaviano Amatulli. Ediciones Combonianas 2da edición. Diciembre de 1980. México D.F.
-Compendio de Historia Sagrada. Editorial Progreso. 2da. Reimpresión. 2006. México, D.F. 

Fr. Eduardo de Souza Montalvão, C.Ss.R.

Tradução e adaptação do Espanhol.

13/02/2021

Fonte: Afipe

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