Homilia de Dom Washington Cruz

Arcebispo de Goiânia presidiu a Missa de Encerramento da Romaria Virtual 2021

Homilia da Festa de Trindade 2021

 

Dt 15, 7-11;     1 Jo 4, 17-21;     Mt 23, 1-12

Queridos irmãos e queridas irmãs,

  1. A minha fraterna saudação a você, que está aqui presente no Santuário-Basílica do Divino Pai Eterno: ao Pe. João Bosco, Vigário Episcopal do Vicariato e Pároco de Trindade; ao Pe. João Paulo, Reitor e ao Pe. Sidney, Prefeito, deste Santuário Basílica; ao Pe. Jesus Flores, a quem muito admiro; aos demais irmãos Sacerdotes, Irmãos e Junioristas Redentoristas, aos ministros presentes aqui na assembleia

A Você, que está perto ou bem longe daqui, mas que está unido em oração, a minha saudação, no amor do Pai que nos une numa família de fé, através das TVs Pai Eterno e Aparecida, Rede Vida de Televisão, PUC TV, das Rádios Difusora Pai Eterno, Trindade FM e outras emisssoras, das Redes Sociais deste Santuário e do Santuário de Aparecida.

  1. Pelo segundo ano consecutivo, em razão da pandemia, esta romaria acontece sem a presença do povo. Depois de quase dois séculos de romaria, não é nada fácil enfrentar esta situação tão inusitada, de fazer uma festa sem a presença de cada um de vocês, aqui! Porém, a vida é dom de Deus e o Pai nos pede que cuidemos dela, com carinho e ternura! Então, quando não se pode caminhar com as pernas, caminha-se com o coração. E sei que, hoje, o seu coração está aqui, na Casa do Pai Eterno.
  2. Na liturgia da Palavra, escutamos com amor e atenção as três leituras que nos foram proclamadas. A primeira leitura é do livro do Deuteronômio. Nesta leitura, é anunciada a chegada de um ano muito especial. Era o “sétimo ano, o ano da remissão” (15,9). Este ano sabático dos judeus acontecia de sete em sete anos, dentro do calendário hebraico. No ano sabático, os campos não eram cultivados para deixar a terra descansar, para se cuidar dos pobres, para os animais restabelecerem as forças. Era um ano da remissão, do perdão das dívidas, e de libertação de todos os escravos.
  3. Era um ano em que todas as propriedades deveriam retornar aos proprietários originais ou aos seus herdeiros.

O sétimo ano, por tudo isso, era considerado um ano jubilar, de alegria e de fraternidade. Esse ano sabático dos judeus, portanto, era um sábado do Senhor, um tempo de recordar e de celebrar a obra da criação do Pai. Era um tempo para restabelecer as relações dilaceradas e para aproximar o mundo daqueles sete dias de criação do paraíso. Era, enfim, um tempo forte para transformar a vida humana desfigurada, em imagem e semelhança de Deus.

O ano sabático deveria ser uma convocação também a nós, para inaugurarmos um tempo novo, de alegria, de fraternidade, de justiça, de solidariedade, de reconciliação e de paz. Depois de um ano e meio de pandemia e de mais de meio milhão de brasileiros que morreram pela Covid 19, estamos extenuados, cansados, sobrecarregados e com o coração em luto. Em meio às lágrimas, entregamos nos braços do Pai Eterno todos os falecidos, e pedimos que os acolha na eternidade. Também nos voltamos para a grave situação social e econômica, no Brasil e no mundo.

  1. Após uma pandemia que levou milhões de pessoas ao desemprego e à miséria, não seria este um tempo sabático para que os países ricos perdoassem as dívidas dos países mais pobres do planeta? Não seria este um tempo sabático para quitarmos a dívida social e histórica que temos para com os negros e os índios? Não poderíamos promover o perdão e a reconciliação em nossas comunidades e famílias? Não poderíamos nos abrir um pouco mais para o diálogo, a tolerância e a compaixão? Não deveríamos promover um tempo jubilar, renovando as utopias, articulando os sonhos, soprando ventos novos de esperança, renovando a nossa alegria de viver?
  2. Talvez, nem os próprios israelitas tenham conseguido observar plenamente o ano sabático. Mas, a sabedoria daquela lei da reconciliação e da solidariedade tornou-se uma memória inquietante: “Abre tua mão para o teu irmão pobre e indigente em tua terra” (15,11).

Esta memória se tornou ainda mais forte entre os cristãos. Foi o que ouvimos na primeira Carta de São João: “Quem não ama o seu irmão, a quem vê, poderá amar a Deus, a quem não vê?” (1Jo, 4, 20).

  1. Diante do Pai Eterno, somos todos irmãos. Essa fraternidade do Evangelho é um convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço, que ama o seu irmão, tanto quando está longe, como quando está perto.
  2. O ano sabático – de perdão, reconciliação e fraternidade -, pode e deve iniciar desde hoje em nossas famílias, comunidades e na sociedade. Amar o “irmão que se vê”, significa amá-lo também nas ruas do trânsito agitado, no respeito aos irmãos que atravessam a faixa de pedestre; nas calçadas tornadas acessíveis aos irmãos com dificuldades para locomover-se.

 

Amar o “irmão que se vê” significa não praticar a violência doméstica, nem agredir e machucar as mulheres, as crianças e os idosos. Amar o “irmão que se vê” significa não espalhar boatos, calúnias e fofocas contra os outros. Amar o “irmão que se vê” significa dedicar tempo para ouvir e conversar com o outro; e esse amor pede que se trabalhe para viver, não que se viva apenas para trabalhar!

Guardemos bem na memória e no coração este alerta da Carta de São João: “Quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê. Aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão” (1Jo 4, 20-21).

  1. O papa Francisco, em sua encíclica Fratelli tutti, nos pede para que saibamos ser uma “fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas, independentemente de sua proximidade física, do ponto da terra em que cada uma nasceu ou habite” (n. 1).
  2. Isso me faz pensar nos irmãos e irmãs migrantes que encontram muros de exclusão; nos irmãos e irmãs doentes e abandonados; nos irmãos e irmãs desempregados, sem pão, sem teto e sem direitos sociais; nos irmãos e irmãs descartados do ventre materno e daqueles esquecidos nos hospitais e nos asilos; dos irmãos e irmãs com quem não mantivemos os cuidados sanitários durante a pandemia; dos irmãos e irmãs com quem não mais dialogamos, porque transmitimos ódio e ofensas pelas redes sociais.

 

  1. A fraternidade aberta é aquela que nos coloca irmanados com todas as pessoas e com todos os seres da terra. São Francisco – o santo que inspirou o papa Francisco a escrever a encíclica Laudato si -, se sentia irmão do sol e da lua, da água e da terra, dos pássaros e do vento, das flores e das frutas, das árvores e dos animais. O coração franciscano se sente irmanado com o mundo, numa fraternidade cósmica e na solidariedade com todos os seres. Dizemos que amamos a Deus, mas destruímos a obra de sua criação, o jardim da vida no qual ele nos colocou para cuidar com zelo, amor e fraternidade. Incendiamos o pantanal, o cerrado e a Amazônia, como se isso não ofendesse a Deus que é o autor da vida.

Envenenamos a terra, as frutas, as verduras, como se isso não tivesse consequências para todos.            Desperdiçamos a água e destruímos as nascentes e as matas ciliares, como se isso não fosse atingir a todos, inclusive a nós mesmos. Diante do Pai Eterno, somos todos irmãos; irmãos também dos animais, das florestas e de todos os seres vivos. Sim, somos irmãos universais, porque temos um único Pai Eterno, criador de todos os seres, do qual vem o sopro da vida.

  1. Os mundos fechados em si mesmos provocam a destruição da vida. Mundos fechados provocam guetos, rigidez, radicalismos, extremismos, fundamentalismos, machismo e racismo. Mundos fechados geram ódio, rancor, indiferença e infelicidade. Fechar-se em si mesmo é alimentar-se da ilusão de onipotência, quando, na verdade, isso nos causa distração e solidão. Fechar-se em si mesmo é o mesmo que ficar empanturrado de conexões e perder o gosto da fraternidade. A pandemia da Covid-19 nos revelou, nesta vida, todos viajamos num mesmo barco. O mal de um pode atingir e prejudicar a todos. Tudo está interligado e todos os seres estão em relação entre si.
  2. Não nos esqueçamos das lições da história. “Passada a crise sanitária [nos adverte o papa Francisco], a pior reação seria cair ainda mais em um consumismo febril e em novas formas de autoproteção egoísta. No fim, oxalá, já não existam ‘os outros’, mas apenas um ‘nós’. Oxalá não seja mais um grave episódio da história cuja lição não fomos capazes de aprender. Oxalá não nos esqueçamos dos idosos que morreram por falta de respiradores, em parte como resultado de sistemas de saúde que foram sendo desmantelados ano após ano.
  3. O Papa Francisco n. 35 da Fratelli tutti, almeja: Oxalá não seja inútil tanto sofrimento, mas tenhamos dado um salto para uma nova forma de viver e descubramos, enfim, que precisamos e somos devedores uns dos outros, para que a humanidade renasça com todos os rostos, todas as mãos e todas as vozes, livre das fronteiras que criamos” (Fratelli tutti, 35).
  4. “Todos vós sois irmãos” ( Mt 23, 8), nos ensina Jesus, na passagem do Evangelho que hoje nos foi proclamado.
  5. No passado e agora, Jesus orienta aos seus discípulos missionários a evitarem o farisaísmo, a não incentivarem para que os chamem de mestres e senhores, a não colocarem o fardo pesado nos ombros dos outros, a não agirem com exibicionismo, a não desejarem os lugares de destaque. “Vós sois todos irmãos… e um só é o vosso Pai… o vosso Mestre… o vosso guia” (Mt. 23, 8-10).
  6. “Só Deus é Deus”, dizia, aqui mesmo, neste santuário, o meu antecessor dom Antônio, de saudosa memória! Sim, “só Deus é Deus”!!!
  7. Ninguém adore ou se considere um deus, ninguém fabrique ou se considere um mito, ninguém siga ou se considere um ídolo. Todos os semideuses, os mitos e os ídolos, um dia, terão os seus corpos apodrecidos na terra. Eles são finitos, mortais e não tem poderes divinos! Na História, as civilizações que se curvaram aos ídolos e aos mitos, foram sepultadas pelos seus próprios escombros, pela sua ignorância e pelas suas falsas esperanças.
  8. A memória da Igreja sobre os primeiros mártires cristãos sempre nos leva a recordar daqueles que derramaram o seu sangue e entregaram a sua vida para não adorar às divindades pagãs, mas somente adorar ao Deus único e verdadeiro!
  9. Só Deus é Deus; só Deus é Pai; só Deus é senhor; só Deus é o altíssimo; só Ele é Mestre que tem palavras de Vida Eterna; só Ele poderá nos dar a água que mata a nossa sede de infinito; só Deus não nos deixará perecer quando nossos corpos forem cobertos pela terra;
  10. Só Deus pode nos conduzir e acolher ao seu reino definitivo, nos envolver com um doce abraço de amor, nos recolher dentro de seu coração.
  11. Peço ao Pai Eterno para que encha de bênçãos a vida de vocês, que atenda a cada um de vocês nas dificuldades, que os proteja contra todos os males e perigos, que os guarde na fé católica, que os mantenha unidos em fraternidade, que conceda a vocês muita saúde, alegrias, vida longa, realizações e toda a felicidade do mundo.

Que os tempos de dor, sofrimento e luto tenham fortalecido vocês, ainda mais, para seguirem em frente na romaria da vida. Com o salmista, rezamos confiantes: “Com certeza, ó Senhor, nos guardareis!!!” (Sl 11).

  1. Hoje, com alegria e humildade, lanço a minha última Carta Pastoral. Das Cartas Pastorais que escrevi na Arquidiocese de Goiânia, as quatro últimas Cartas dediquei-as principalmente aos irmãos-romeiros: uma sobre o Pai, uma sobre o Filho e outra sobre o Espírito Santo. Esta última Carta Pastoral, de que hoje estou fazendo o lançamento, eu a dedico à Santíssima Trindade.
  2. O título desta Carta é “Na Trindade, eterno amor”. Com esta reflexão, convido a que nos coloquemos confiantes diante da Trindade Santa, com o olhar cheio de amor. E, como irmãos, caminhemos rumo ao seu encontro, até o dia em que, ao lado da Virgem Maria, veremos, face a face, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Amém!

 


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