Devoção

Romaria de carros de boi é patrimônio cultural do Brasil

Reconhecimento foi dado nesta quinta-feira, 15, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).⁠⁠⁠⁠

DESTAQUE_PATRIMONIO_2016_09_15_005A Romaria de Carros de Bois da Festa do Divino Pai Eterno de Trindade, em Goiás, foi reconhecida como o mais novo Patrimônio Cultural Brasileiro. Por sua relevância como referência cultural e representatividade da vida rural, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural aprovou, por unanimidade, nesta quinta-feira, dia 15 de setembro de 2016, o registro da celebração religiosa como patrimônio imaterial.

Na abertura da reunião, a presidente do Iphan, Kátia Bogéa, ressaltou a atuação da instituição na defesa da cultural nos últimos 80 anos: “O Iphan é, hoje, um patrimônio da Nação. O Conselho sempre foi, desde a criação do Instituto, sua principal instância. Só senta nesta cadeira quem entende que a dimensão humana só pode ser exercitada através da cultura”. De acordo com a presidente, a instituição ajudou a solidificar a identidade brasileira. “E o mundo ficou maravilhado com a cerimônia de abertura e encerramento das Olimpíadas no Brasil. Ali estava estampada a riqueza da identidade cultural e nosso patrimônio, exemplificado pela nossa porção indígena, africana e pela valorização do nosso patrimônio”, continuou.

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Presente na reunião, o Ministro da Cultura, Marcelo Calero, falou da importância de se preservar a história do Iphan, construída ao longo de décadas. Fazendo um paralelo com uma máxima utilizada pelo Itamaraty, seu órgão de origem, Calero destacou que a grande tradição deve ser a de saber renovar-se.

O trabalho de análise foi aberto por Carlinhos Berranteiro, que tocou o berrante e, por unanimidade, os conselheiros aprovaram o pedido de registro. Segundo o Ministro, o reconhecimento também traz às autoridades públicas uma obrigação de preservação. “Nós precisamos atuar e fomentar uma série de recomendações que foram feitas para que esta festa se perpetue como ela é”, disse. Já o presidente da Federação dos Carreiros, J. Carreiro, que participa da festa desde pequeno, falou sobre a gratificação de ter a celebração reconhecida, ressaltando que o Registro também valoriza o trabalho do homem do campo, da roça.

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Fé e devoção pelas estradas de Goiás
A identidade cultural de um povo muitas vezes está ligada à sua crença e, principalmente, à simbologia que envolve a tradição das práticas e celebrações religiosas. A devoção ao Divino Pai Eterno, em Trindade, começou volta de 1840, quando um casal encontrou um medalhão entalhado com a imagem do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Desde então, muitas pessoas peregrinam até a região, caracterizando esta prática como imersa no catolicismo popular. Os carros de bois eram, antigamente, o principal meio de transporte para as famílias das zonas rurais, para viagens de longas distâncias. Por isso, a Romaria de Carros de Bois da Festa de Trindade, especificamente, está relacionada às antigas práticas cotidianas da vida rural. Ainda hoje, permanece como uma tradição cultural, reiterada no convívio familiar por sua representatividade no que se refere às antigas vivências de homens e mulheres do campo.

O epicentro da romaria é em Trindade, mas os devotos saem de diversas cidades de Goiás e de estados próximos, do Centro-Oeste e também do Sudeste. A preparação envolve diversas atividades, como reparos eventuais nos carros de bois, de mantimentos que serão consumidos, ofertados ou vendidos durante o trajeto, entre outros. Essas atividades são executadas por homens e mulheres que dividem o trabalho equivalente à prática no cotidiano da vida rural.

Os carreiros, candeeiros e demais participantes da Romaria de Carro de Bois se colocam na posição de herdeiros, guardiões e transmissores de costumes da vida rural, que vem sofrendo, nas últimas décadas, profundas mudanças com o advento da modernização que avança na região. Ao usarem um meio de transporte tido por anacrônico na atualidade, rememoram os tempos dos seus antepassados e até mesmo o da infância e reconstroem, ano após ano, a tradição da vida rural e das devoções.

Os romeiros e o Santuário
No século XIX, quando a pequena medalha de barro com a imagem da Santíssima foi encontrada, famílias de amigos e vizinhos começaram a se reunir para rezar o terço em louvor ao Divino Pai Eterno. Por alguns anos, a devoção foi praticada naquele ambiente familiar, entretanto, com o crescimento do número de devotos, foi construída por volta de 1843 uma capela coberta de folhas de buriti, para que o público tivesse acesso permanente à relíquia. Tempos depois, em 1866, com as esmolas dos fiéis, foi possível erguer uma capela maior e encomendar ao escultor Veiga Valle a imagem da Santíssima Trindade. O crescente fluxo de romeiros justificou a construção de uma nova Igreja.

Em 1911, um dia após a festa, iniciaram as obras no edifício, que foi reinaugurado no ano seguinte, durante a romaria. Este último templo, conhecido como Santuário Velho, foi tombado pelo Iphan em 2013. A igreja materializa a ocupação do interior do país, em que pessoas simples, amparadas em sua fé e movidas por um ideal comum, migram, instalam-se em uma porção de terra e sacralizam o que então era um lugar comum. A construção tem relação direta com a romaria de cerca de 2,5 milhões de devotos que acontece anualmente à cidade e, desde sua primeira construção, em 1843, é polo dinamizador dessas expressões culturais, sendo um componente referencial do evento.

O Conselho Consultivo 
O Conselho que avalia os processos de tombamento e registro pleiteados ao Iphan é formado por especialistas de diversas áreas como cultura, turismo, arquitetura e arqueologia. Ao todo, são 22 conselheiros que representam o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), a Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Ministério da Educação, o Ministério das Cidades, o Ministério do Turismo, o Instituto Brasileiro dos Museus (Ibram), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), e mais 13 representantes da sociedade civil, com especial conhecimento nos campos de atuação do Iphan.

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