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Igreja doméstica: O princípio da fé cristã

Confira entrevista especial sobre o tema com Pe. Arthur Freitas, doutorando em Teologia Dogmática, em Valência, na Espanha

Diante do atual quadro de pandemia que assola o mundo, o momento é de isolamento social. Portanto, as famílias cristãs estão sendo convidadas a rezarem em casa como antes, quando não se tinha o costume e nem a permissão para frequentarem templos. “Igreja doméstica” era o termo utilizado para definir o culto a Deus em casa, em família, e agora, no cenário atual, ele volta a ser lembrado e usado pela Igreja. Quem fala sobre o tema é o Pe. Arthur Freitas, da Arquidiocese de Goiânia, mas que atualmente mora em Valência, na Espanha, onde é doutorando em Teologia Dogmática. Confira entrevista:

O que  significa o termo “Igreja doméstica”?

Pe. Arthur Freitas: A igreja cristã foi estabelecida em seu início em pequenos grupos e pequenas comunidades, chamados “domus eclesias”, que eram igrejas domésticas, na tradução. Eram famílias que se reuniam em pequenos grupos, pequenas comunidades nas casas, no tempo que não era permitido aos cristãos realizar o culto em templos. Por isso, a primeira forma da Igreja cristã era a forma familiar, nas casas. Depois, o termo passa a ter um significado que permanece, ainda que não seja mais a reunião das famílias em casa, mas permanece o valor do significado da pequena igreja familiar. Cada família cristã tem em si, mesmo uma realidade verdadeira da Igreja, onde habita Deus, onde está a Santíssima Trindade, onde se faz de algum modo o culto a Deus, onde se vive em primeiro grau os mandamentos de Deus, onde se recebe a fé, ou seja, é a primeira célula onde o cristão vive a fé, e ela se torna experiência concreta.

O Papa Francisco diz sobre valorizar o Evangelho da alegria em família. Diante disso, como as famílias podem redescobrir esse universo tão rico e ao mesmo tempo tão denso, que é a Igreja doméstica?

Pe. Arthur Freitas: Em primeiro lugar, eu acredito que é uma oportunidade de se restabelecer em nossos lares o culto a Deus. Às vezes, nós temos a ideia de que dar culto a Deus ou rezar é uma coisa relacionada àquilo que fazemos na igreja, quando vamos lá a alguma atividade presencialmente. Esta situação nos faz, agora, redescobrir e tornar muito potente o ato do culto que se deve viver dentro de casa, tanto o culto particular, como de um modo muito belo, o que é o grande segredo para este tempo, que é o culto com a família, aquela que reza junto, que reserva um momento para agradecer a Deus, para fazer pedidos. As famílias, diante da atual realidade, redescobrem que podem rezar juntas, reunidas. Isso tem um aspecto muito positivo, pois as famílias vão readquirindo o costume do sacramento, em virtude de tudo aquilo que deve ser restabelecido nas famílias.

Temos na atualidade diversos modelos familiares diferentes entre si até por conta da realidade que a sociedade vive. Diante deste desafio de se redescobrir, de se conhecer, qual caminho a família deve trilhar para seguir o Evangelho de Jesus?

Pe. Arthur Freitas: Antes de tudo a família é formada por pessoas humanas, com dignidade. Então, independente da forma que essa família tem, ela é formada por pessoas, que, independente também, de suas circunstancias, escolhas e passado, cada uma tem dignidade humana e, portanto, com essa base, se estabelece a possibilidade e o dever de se relacionar com Deus. Então, embora nós saibamos que existe o modelo de família estabelecido, sabemos que não é a realidade de todos, mas nem por isso alguém está excluído da participação da graça de Deus. As famílias e cada individuo que a forma redescobrem a sua dignidade, e passa a viver a possibilidade do amor ao próximo, do perdão, ou seja, todos os valores que Jesus Cristo nos deixou, principalmente o do amor. Independente de sua configuração é chamada a viver essa realidade doméstica e confiar que Deus vem ao auxílio das nossas limitações, daquilo que não está aparentemente perfeito e sua graça nos ajuda naquilo que nos falta.

Na sua visão, como as famílias têm cumprido ou aceitado o convite para a vivência concreta do Evangelho em casa?

Pe. Arthur Freitas: Acho que o maior desafio que temos hoje é vencer o egoísmo e o individualismo em que estamos inseridos. Inclusive, a situação atual deixa isso de algum modo escancarado, por exemplo, às vezes estamos dentro de casa, mas cada um mergulhado em seu mundo virtual, sozinho, quase vivendo uma alienação. Claro, que em contato com muita gente virtualmente, mas no fundo nada tão forte que preencha sua vida. Então, o desfio é a possibilidade de restabelecer relacionamentos concretos, humanos da carne, físico. E com isso, é necessário perdão, é necessário retomar sentimentos, sobretudo em relações feridas. Mas, é nisso que se trabalha a graça de Deus, capaz de restaurar todas as coisas, se nós vivermos isso com disposição com o coração aberto à graça de Deus. Portanto, este é o meu convite, para que as pessoas saiam do individualismo e se abram a realidade que está próxima. Isso fará pessoas novas para um mundo novo, e a família é o lugar ideal para que isso aconteça.

Como blindar a casa e a família daquilo que está tão presente e parece mais atrapalhar que ajudar?

Pe. Arthur Freitas: São três as armas que temos: primeiro a fé; depois o bom exemplo, o que mais educa é forma é o exemplo, é a forma como os pais vivem. E depois vem a conscientização,  pois é preciso entender que vivemos em uma época que não basta dizer sim ou não. E preciso dar razões, explicar para que, uma criança, por exemplo, seja capaz de com a sua própria consciência tome decisões de forma correta. O simples sim ou não é o que leva a pessoa tomar decisões com coisas que não conhecem. Por isso, os pais não devem ter medo de conscientizar seus filhos e não podem deixar esse dever ser só da escola ou dos meios de comunicação. Em primeiro lugar é dever da família educar, formar e conscientizar, transmitindo aquilo que recebeu como valor.

 

Fonte: Afipe

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