“Dai-lhes vós mesmo de comer” (Mt 14,16)
Imagem / Agência Santo Afonso
O texto-base da Campanha da Fraternidade 2023 já está disponível e propõe despertar o espírito de caridade e de compromisso que deve estar presente em todos os que querem ser discípulos de Jesus. Para ajudar a refletir o tema proposto deste ano, acompanhe a entrevista com o assessor do Setor de Campanhas da CNBB, padre Jean Poul Hansen.
- Quando surgiu a Campanha da Fraternidade?
Jean Poul: Surgiu em 1962, como uma iniciativa da Diocese do Rio Grande do Norte, em Natal. Dois anos depois, a Campanha da Fraternidade se tornava uma iniciativa nacional. O Brasil inteiro, em 1964, já celebrava a ação da fraternidade. Em 2024, vamos celebrar os 60 anos da campanha.
- Qual o principal objetivo da campanha?
Jean Poul: A Campanha da Fraternidade visa uma proposta de conversão. Por isso, ela acontece no Tempo da Quaresma, que é o tempo propicio para a conversão. Mas não é uma proposta de conversão apenas individual, vai além; ela quer ser também uma proposta comunitária, eclesial e social. A vontade de Deus sempre se revela como desejo de vida para um povo. Sempre que Deus chama uma pessoa, Ele vocaciona uma pessoa para a vida do seu povo.
- Com o tema “Fraternidade e Fome”, qual a mensagem que a Igreja pretende passar ao mundo?
Jean Poul: É a terceira vez que refletimos sobre a fome. Trabalhamos o tema em 1975, 1985 e agora em 2023. Infelizmente após o Brasil voltar ao mapa da fome. A mensagem que a Igreja quer passar vem do evangelho, está em São Mateus (13: 14 – 21), nele Jesus nos ensina que os famintos não precisam ir embora, “dai-lhes vós mesmo de comer”. A resolução do problema da fome passa por todos os discípulos de Jesus. A fome no Brasil e no mundo não vai se resolver por parte de algumas pessoas muito ricas, vai ser resolvido como compromisso ainda que pequeno de todo discípulo de Jesus.
- Como os cristãos podem colocar em prática o lema deste ano?
Jean Poul: Com gestos simples. Não conseguimos sanar a fome do Brasil, mas temos condições de sanar a fome de um irmão que bate a nossa porta. Temos condições de nos organizar comunitariamente e sanar a fome de uma família, no nosso bairro. Temos condições de cobrar dos poderes públicos e da sociedade civil organizada atitudes concretas para diminuir a desigualdade social no país.
- Qual o impacto que a Campanha da Fraternidade causa na sociedade?
Jean Poul: Como cristãos nós precisamos voltar sempre a pessoa de Jesus e descobrir como Ele lidava com essa situação. O texto-base da campanha diz que no coração de Jesus não havia lugar para a indiferença. No coração de cristãos não pode haver lugar para a indiferença também, devemos estar sempre sensíveis e compassivos diante dos sofrimentos de nossos irmãos. A Campanha da Fraternidade 2023 busca sensibilizar a sociedade e os cristãos para ajudar ao próximo.
- A campanha tem como gesto concreto a Coleta Nacional da Solidariedade. Como é realizada esta coleta e para onde são destinadas as arrecadações?
Jean Poul: A Coleta Nacional da Solidariedade acontece todos os anos no Domingo de Ramos. Do montante arrecadado em todas as comunidades do Brasil, 60% fica na própria diocese que arrecadou. Esse valor forma o fundo diocesano de solidariedade. Os outros 40% do arrecadado é enviado para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e formam o Fundo Nacional de Solidariedade. O fundo é administrado para socorrer a população brasileira de acordo com o tema da campanha.
- Até quando vai a campanha?
Jean Poul: Começa na quarta-feira de cinzas, mas não tem encerramento. Pois, perdura na vida da Igreja em todo o tempo.
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Não podemos ser indiferentes à questão da fome, pois a fome não é somente a total ausência de alimentos para suprir as necessidades nutricionais e sociais do indivíduo, mas também, o que essa ausência provoca na vida das pessoas. Somos todos responsáveis, não podemos permanecer insensíveis.
Mais uma campanha, mais um pedido de socorro contra a fome. No coração de cada cidadão que se diz cristão, não pode existir lugar para a indiferença e para o sofrimento. Cada gesto concreto é sinal da presença de Deus. É isto que procuro fazer.
