Em cooperativas de reciclagem de lixo, o que para muitos é considerado lixo, por lá o valor é outro. “O lixo é o nosso luxo. Ele dá dignidade, sustento para as nossas famílias”, afirma Dulce Helena do Vale, presidente de cooperativa, em Goiânia (GO).

A cooperativa é responsável pela coleta, separação e comercialização para as empresas que ficam no Sul e no Sudeste do País, por isso emprega muita gente. “É uma oportunidade para que a pessoa venha, trabalhe e consiga tirar sustento daqui. Hoje, a cooperativa não é só para catadores de papel, qualquer pessoa que queria uma oportunidade de trabalho, a cooperativa dá essa oportunidade, seja a pessoa que já está idosa, seja para aquele jovem que está procurando o primeiro emprego. Então, a cooperativa se torna uma oportunidade para que as pessoas tenham um pouco de dignidade”, comenta a presidente.

Uma das pessoas que teve a vida transformada graças ao trabalho de coleta foi a Maria do Socorro Alves Gomes. Ela tem 62 anos de idade, trabalha na cooperativa e lembra quando tudo começou: “Eu vim trabalhar aqui quando eu estava desempregada. Então, minha amiga arrumou para mim. Eu comecei e fui gostando. É um trabalho muito importante. Eu sinto orgulho de trabalhar dentro desse material”.

Com o seu esforço, ela conseguiu realizar um sonho. Pôde mudar a vida de uma das filhas, que queria fazer uma faculdade “Eu lutei pela minha filha e ajudei a realizar o sonho dela. Lutei com unhas e dentes e consegui, dei tudo na mão dela. Hoje, ela é realizada. Agora, eu vou colher o fruto dela, porque ela está me ajudando”, conta Maria do Socorro.

Por meio da reciclagem, muitos trabalhadores conseguem mudar de vida e deixar o meio ambiente mais sustentável. São histórias como a da Maria do Socorro, que está no trabalho há 12 anos e do Samuel da Silva Vieira, que conseguiu na cooperativa a sua primeira oportunidade de trabalho. “Aqui na cooperativa foi meu primeiro emprego. E minha área de serviço é na separação de garrafinha, e, na hora que faltam pessoas, eu também fico na prensa e ajudo a descarregar o caminhão, ajudo a separar garrafa de vidro”, relata. Samuel sonha alto em relação ao futuro: “Quero trabalhar, comprar minhas coisas. Meu sonho é ser chefe de cozinha”, disse.

Nessa Semana do Meio Ambiente a ideia é passar a mensagem de que cada um pode fazer um pouco mais para preservar o nosso meio de convívio. E essa cultura de reciclar pode continuar mudando vidas. A cooperada Ângela dos Santos Custódio, por exemplo, aproveitou a oportunidade, e o que era treco para outras famílias, para ela a está sendo muito útil. “Na minha casa, praticamente, o que não é do cata treco é só o botijão de gás, mas o resto, coma, fogão, tudo foi da cooperativa, do caminhão do cata treco, doação”, conta.

Graças a esse trabalho, a cooperativa tem parcerias com outras empresas que dão descontos aos colaboradores para que eles possam comprar materiais de construção. A Ângela já está de olho em outra melhoria na casa dela. “Eu tenho o sonho de construir o muro da minha casa, com as parcerias que temos aqui”, disse.

E não para por aí, é que em breve a cooperativa celebrará uma grande conquista. Isso porque nos próximos meses eles poderão realizar a reciclagem de vidro, o que aumentará os lucros e diminuiria a quantidade de vidros jogados pela cidade. Esta é uma grande notícia para os trabalhadores que não param de reciclar e sonhar. “O nosso sonho é o reconhecimento. Que as pessoas entendessem que damos oportunidade para quem quer trabalhar. Queremos que valorizem isso e deem mais oportunidade, que não tenham a ideia de que quem mexe com lixo é lixeiro. Isso aqui é uma forma de trabalho de qualquer pessoa, nós também somos profissionais. O que eu queria era o entendimento de que nós estamos trabalhando com o nosso negócio e que tenhamos sempre condições de sobreviver disso”, conclui a presidente, Dulce Helena.