Especial

Como enfrentar a doença?

Dom Leomar Antônio Brustolin Arcebispo de Santa Maria (RS) No dia 11 de […]

Imagem / Agência Santo Afonso

Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

No dia 11 de fevereiro, na Festa de Nossa Senhora de Lourdes, a Igreja celebra o “Dia Mundial dos Enfermos”. Refletir sobre quando nos falta a saúde, permite-nos ter maior lucidez para perceber a condição humana marcada pela fragilidade. O Catecismo da Igreja Católica, a propósito, ensina: “Na enfermidade o ser humano experimenta sua impotência, seus limites e sua finitude… Pode levar a pessoa a fechar-se em si mesma. Não raro, a doença provoca uma busca de Deus, um retorno a Ele.” (nn.1500-1501).  A fé não suprime a dor, mas a despoja do seu estilo punitivo. Suportar a Deus não significa deixar-se derrotar pelo sofrimento; pelo contrário, é encontrar uma esperança que estava escondida.  

Para quem crê, o sofrer estabelece uma intimidade com Cristo. A partir da experiência de Jesus na carne, o Filho de Deus viveu o sofrimento. Com ele, o sofrer implica tentação e convite. Tentação porque a dor, seja de qual tipo for, ameaça todas as seguranças e certezas da pessoa. Ela é uma ruptura que pode fragmentar toda pessoa. Quando a dor provoca revolta, essa é a reação de alguém impotente que não consegue avaliar os limites da natureza e termina imputando a Deus a impotência humana. 

 Convite, porque ao absurdo da dor se contrapõe a solidariedade de Cristo que modifica o sentido do sofrimento. Nesse contexto, quem sofre pode crescer moral e espiritualmente com essa experiência.  É claro que poucos são os que conseguem viver tudo isso numa enfermidade. Isso depende de fé. Só o crente pode abrir caminhos de libertação da escravidão imposta pelo mal. Nesse viés, não interessa quanto se sofre, mas como se sofre.  

 O filósofo personalista francês Emmanuel Mounier, entre 1939 e 1940, experimentou uma profunda dor quando sua filha Françoise ficou gravemente enferma. Mounier e sua esposa acompanharam a evolução da doença com muita inquietude. Tudo começou com um pequeno distúrbio que acabou se tornando terríveis encefalias. A menina enfrentou as dores de uma doença incurável. 

Em março de 1940, Mounier escreveu uma carta para sua esposa aconselhando-a: “[…] Da manhã até a noite, não pensemos neste mal como algo que nos é tirado, mas como algo que estamos doando, para não desmerecer deste pequeno Cristo que está no meio de nós, para não o deixar só, ele que deve nos arrastar; para não o deixar sozinho no trabalho com Cristo.” 

Em tempos de profunda crise de esperança, de incapacidade de sonhar e projetar o futuro, de preferir eternizar o presente, para que seja eterno enquanto dure, toda experiência de enfermidade e perda tende a ser camuflada ou intencionalmente esquecida, se é que é possível enganar-se tanto e por muito tempo. 

Diferente é a mensagem bíblica a respeito do sofrimento. Há, no texto sagrado, uma novidade que nunca envelhece, que tem sentido sempre, em todos os contextos. A única condição que a Bíblia impõe ao ser humano é que ele seja capaz de ousar, de se arriscar confiante na experiência de fé que possibilita uma nova consideração sobre a dor.  

Sabemos que a fé não pode ocupar-se em responder sobre o porquê da dor.  Na Sagrada Escritura, não se encontra uma solução racional para essa questão. O certo é que, biblicamente, não se sustenta a ideia de que a dor é resultado de um destino cego que advém sobre a humanidade. Assim, a doença não é uma vingança, tampouco um castigo divino para descontar as faltas humanas. Entretanto, a dor tem sempre um significado, tanto para o justo quanto para o pecador. É um caminho, para que a humanidade alcance a felicidade eterna. Por um lado, a dor induz o pecador a abandonar o pecado e a se voltar para Deus; por outro, o sofrimento é vivido pelo justo como um meio da pedagogia divina.  

A plenitude do sentido do sofrimento encontra-se no “Crucificado”. O Filho de Deus sofre por todos e por um a um em particular. Assim, a dor dos seguidores de Cristo não é uma experiência de solidão, mas de solidariedade: completo em minha carne o que falta para a Paixão de Cristo. É uma dor redentora, porque o ser humano não sofre apenas por si, mas em comunhão e em benefício de muitos outros. Só assim se entenderá por que se pode transformar a experiência de dor em conforto e alegria.  


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