Especial

Diante da autodestruição a esperança da reconciliação

Precisamos de artesãos da paz, de pessoas, canais e pontes, que gerem e estimulem a cultura do encontro e das convergências

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ) 

A última viagem do Papa Francisco ao continente africano, em janeiro deste ano, especialmente no Congo, espelhou uma realidade de crueldade desumana verificada em testemunhos dramáticos, como o do jovem agricultor Ladislas, que assistiu ao assassinato do pai, que foi despedaçado, ou da adolescente Bijoux, sequestrada e estuprada diariamente, durante 19 meses.  

Para não acabar morta, era obrigada a comer a carne daqueles que tinham sido triturados por torturas atrozes. Mesmo assim, esses jovens comprometeram-se num caminho de perdão e reconciliação depositando, como oferenda de paz, diante do Crucifixo que estava ao lado do Papa, uma catana, um tapete, e pregos, sinais da sua dor e sofrimento.  

Com Jesus, o Cordeiro manso e não violento, nossas feridas são curadas e nosso coração transformado pelo amor apaixonado de Cristo, pelas vítimas. A espiral da violência, círculo de ferro, cruel e letal, só pode ser quebrado, afirmava Dom Helder Câmara, com a firmeza da verdade e do amor incondicional. No nosso Brasil atual, após as eleições, não conseguimos criar ainda um clima de desarmamento espiritual e moral que nos conduza ao diálogo e à escuta mútua.  

Precisamos de artesãos da paz, de pessoas, canais e pontes, que gerem e estimulem a cultura do encontro e das convergências. A democracia conseguirá, sim, renascer, porém, para sobreviver e poder respirar em liberdade, encantando a política, demandará o respeito, a participação de todos/as numa sinergia plural de diversidades, que possa harmonizar e ensinar o bem conviver com as diferenças e singularidades.  

As religiões e, particularmente o cristianismo, como grupo maioritário, são chamadas a tornar-se semeadores de perdão e ternura amorosa, para aproximar as pessoas, valorizando-as como preciosas e únicas, ajudando a estabelecer acordos e consensos em torno aos valores permanentes e transcendentes do Reino.  

O resgate da ética e da integridade na política, são requisitos fundamentais para uma cidadania lúcida e luminosa, que não trabalhe para interesses particulares ou imediatistas e, sim, para o bem comum universal e planetário, incluindo a todos/as na construção de uma civilização do dom, da simplicidade e da equidade solidária que cuide da Casa Comum e de todos os seres que a habitam e a abrilhantam. Deus seja louvado! 


Deixe o seu Comentário


Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site, e podem passar por moderação.

TV Pai Eterno

Baixe o aplicativo Pai Eterno


Google Play
App Store
© Copyright, Afipe - Associação Filhos do Pai Eterno